Dois de Julho: Castelo Garcia D'Ávila foi usado por indígenas como base de proteção contra tropas portuguesas
02/07/2025
(Foto: Reprodução) Localizado na cidade de Mata de São João, na Região Metropolitana de Salvador, o castelo serviu como ponto de encontro para tropas revoltosas que lutaram para expulsar os portugueses da Bahia. Liderança indígnea ressalta participação de povos orginários durante 2 de Julho
Monumento histórico e preservado até os dias atuais, o Castelo Garcia D'Ávila, localizado no município de Mata de São João, na Região Metropolitana de Salvador, é um dos resquícios históricos da luta pela Independência do Brasil na Bahia, celebrados neste 2 de julho.
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O castelo abrigou centenas de indígenas durante as lutas para expulsar os portugueses da Bahia e representou um ponto importante para as tropas revolucionárias. Mas, apesar de terem lutado diretamente contra as tropas portuguesas, os povos indígenas da região tiveram a contribuição histórica diminuída, em meio ao destaque para a família portuguesa responsável por gerir o castelo.
Desde a chegada dos portugueses no Brasil, a construção desempenhou um papel estratégico na proteção do país de ameaças estrangeiras. Por muitos anos, esse processo foi liderado pelos Garcia D'Ávila, que utilizavam tropas formadas majoritariamente por indígenas Tupinambá para proteger a região.
Segundo o historiador, pesquisador e sócio-efetivo do Instituto Geográfico e Histórico da Bahia, Diego Copque, a relação entre a família e os indígenas começou por meio dos aldeamentos de padres jesuítas na região do Recôncavo Norte — que hoje compreende os municípios de Camaçari, Lauro de Freitas, Dias D'Ávila e Mata de São João.
Esses espaços iam além da colonização dos povos indígenas por meio da conversão forçada ao catolicismo. Os originários eram preparados para atuar como um cinturão de defesa à Salvador.
Entenda protagonismo indígena no Castelo Garcia D'Ávila na independência do Brasil na Bahia
Fundação Castelo Garcia D'Ávila
O historiador pontua que isso aconteceu muito antes das lutas do Dois de Julho, mas foi essencial para que a propriedade da família Garcia D'Ávila, conhecida como a Casa da Torre, desempenhasse um importante papel na derrubada dos portugueses.
Em fevereiro de 1822, por exemplo, um conflito entre baianos e lusitanos levou um grupo militar ao Recôncavo Norte. Com a presença de negros e mestiços em sua formação, esse grupo revoltoso foi responsável por plantar o clima de guerra entre baianos e portugueses.
"Eles promoveram saques na região e disseram que estavam descendo para a Casa da Torre e que lá eles iriam receber orientação do chefe da Casa da Torre, o Coronel Santinho (Visconde de Pirajá), e iriam voltar para a capital [para] expulsar os portugueses, tomar a cidade e colocar fogo em todos as casas comerciais dos portugueses que estivessem sediados na Conceição da Praia", explicou o pesquisador.
Inicialmente, o grupo foi rechaçado pelos portugueses, que conseguiram enfraquecê-los politicamente por um período. Mas, depois de um tempo, os revoltosos definiram a Casa da Torre como um centro para as revoltas, fortalecendo o local como ponto de encontro para as tropas que combateriam os portugueses fixados em Salvador.
Conflitos de interesse entre portugueses e a Coroa fortaleceram as lutas
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Fundação Castelo Garcia D'Ávila
Como o professor esclareceu, nas proximidades das batalhas pela independência, os descendentes da família Garcia D'Ávila já estavam distantes da Coroa portuguesa, não usavam mais o sobrenome — passaram a se chamar Pires de Carvalho e Albuquerque — e se preocupavam mais com os próprios interesses. A família, então, decidiu apoiar o levante popular para manter suas posses no Brasil.
"O protagonismo da guerra é popular, mas esse protagonismo popular, por outro lado, precisava também do apoio dos grandes latifundiários, dos grandes senhores de engenho da região e foram estes homens que bancaram a guerra dentro do aspecto econômico".
Neste sentido, o latifundiário Joaquim Pires de Carvalho e Albuquerque, conhecido como Visconde de Pirajá, idealizou uma estratégia para enfraquecer as tropas portuguesas em Salvador. Ao posicionar as tropas indígenas nas estradas de acesso à capital, ele conseguiu impedir que os lusitanos tivessem acesso à alimentação, levando-os a passar fome.
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Assembleia Legislativa da Bahia
Apesar do apoio de grandes latifundiários e descendentes de portugueses — lembrados entre os heróis do Dois de Julho —, a expulsão dos portugueses foi feita por meio do esforço de indígenas, africanos e afro-brasileiros, assim como dos mestiços.
"O Brasil tornou-se independente, mas a sua política em relação aos povos indígenas e aos escravizados não mudou em absolutamente nada. [Quem lutou] foram os indígenas, os escravizados — e quando digo os escravizados, eu coloco nessa balança também os mestiços, a plebe. Não houve nenhuma mudança substancial para aqueles que lutaram e para aqueles que deram o seu sangue na fronte de batalha".
O especialista destaca que parte dos escravizados que lutaram as batalhas até o dia de 2 de julho de 1823 acreditavam que, com a libertação do Brasil, seriam consequentemente libertados. Neste contexto, o protagonismo desta população foi, por muitos anos, diminuído.
"Na historiografia dita oficial, o protagonismo indígena, negro, dos mestiços e aí muito específico os caboclos, é jogado para debaixo do tapete. É preciso que a história daqueles que são vistos como os que estão na base da pirâmide social seja colocada em evidência", cobrou.
Fundação Castelo Garcia D'Ávila
O Castelo Garcia D'Ávila foi transformado em fundação e está aberto para visitações atualmente. A instituição mantém também um museu, cujo acervo arqueológico é considerado um dos maiores do Brasil.
Aberto ao público de quarta domingo, entre 10h e 18h, o local possui exposições interativas e experiência de videomapping.
De acordo com Geisy Fiedra, atual presidente da fundação, foi feita uma grande reforma em 2020, com a ampliação de toda a estrutura do museu. "Existem achados arqueológicos como peças indígenas, peças portuguesas", destacou.
Ainda conforme a instituição, o número de visitas costuma crescer durante o mês de julho, quando se celebra as lutas pela independência do Brasil na Bahia. Em junho de 2024, o número de visitas no Castelo Garcia D'Ávila foi de 2.383 pessoas, e no mês de julho esse número quase dobrou, passando para 4.267.
castelo garcia d'avila
Fundação Castelo Garcia D'Ávila
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